27/10/2009

Encontro Nacional JSF

Poullart des Places abre caminho à Missão...
O Espírito Santo e a região Minho encaminharam-nos para esta terra de Lomar. Espaço de partilha, crescimento, oração e de projecção para o novo ano e o que nós queremos ser como JSF. Jovens que ousam como Poullart des Places olhar diferente, abrir caminho na Missão.
E é complexo este caminho de confiança: “Estou decidido (e sabemos o quão dificil é tomar decisões e ser firme nestas) a seguir o caminho que me indicares”. Humildade, assertividade, responsabilidade, dons que são essenciais, simples, mas exigentes de despojamento. Confiantes no Espírito Santo e na protecção de Nossa Senhora ousamos o questionamento, que queremos marcar com um caminho decidido por uma meta diferente.
OUSEMOS SER CORAÇÃO PERFUNDIDO DE AMOR EM DEUS!
Eucaristia de Encerramento do Enc.JSF 2009

21/10/2009

Cláudio P.Places

Conferência proferida pelo P.Tiago Barbosa:

Este breve percurso que faremos nos ajudará a ver que Cláudio Poullart des Places, fundador do Seminário do Espírito Santo, no ano 1703, não se tornou fundador através de uma revelação súbita ou por qualquer estratégia pré-concebida. Ele tornou-se através de um longo trabalho de abertura à graça do seu chamamento, não somente no momento da sua conversão, mas em especial no dia a dia, na sua disponibilidade à vontade de Deus.
Vejamos ...
“Estou decidido a seguir o caminho que me indicares”.
a) “estou decidido a seguir o caminho”
(O dom da Liberdade) Cláudio descobre a vontade de Deus tanto na escuta e na oração, sendo esta a sua experiência espiritual, como no encontro com os mais pobres e no compromisso ao lado destes, sendo esta a sua missão.
Celebrar Cláudio PP nos conduz, então, a caminhar, ou peregrinar nesta direcção. Nesta peregrinação da missão, o bordão e o cantil são a escuta e a oração; o manto e a mochila, o encontro e o compromisso com os mais pobres.
Vejamos isto neste breve itinerário com Cláudio...
- dos sonhos dos pais ao sonho com os pobres...
Todas as influencias recebidas no seu tempo de estudante marcaram profundamente o jovem Cláudio. Ele descobre a sorte dos pobres e experimenta a alegria de servir. Com ele dirá de si mesmo: amando bastante fazer caridade e compadecendo -se naturalmente da miséria dos outros. Os seus horizontes se alargam e uma brecha se abre no projecto dos pais. Ele sente novas aspirações, atraído por uma vida entregue a Deus e aos outros, pelo desejo de ser padre. Em contacto com o Evangelho, ele gradualmente desperta para sua própria liberdade.
No entanto, a escolha é difícil. Ao regresso de Nantes, ele ficou meses sem tomar uma decisão. Aquela voz dentro dele era muito fraca contra as expectativas de seus pais ou de seus próprios sonhos de grandeza e sucesso. Ele também experimentou a sua fraqueza, sua inconsistência em sua resposta, por vezes, cheio de entusiasmo, em outros momentos "mole, preguiçoso, morno”, em suas próprias palavras. Um futuro brilhante é lhe oferecido, ele continua rasgado, impossibilitados de se unificar a sua vida em torno de um projecto.
b) A graça da conversão (Discernimento e Oração) No ano de 1701, há um retiro importante. A experiência de Deus marca um ponto de viragem na sua vida.
A conversão não acontece numa simples continuidade, há uma ruptura, uma novidade: a graça especial de este momento, onde Deus prevalece nele.
Ele estava em um impasse, mas esta experiência liberta-o do projecto que seus pais tinham para ele, mas também de si mesmo, da sua ambição e da sua inconstância. É o peregrinar com verdadeiro desejo, e uma nova força libertadora.
c) O Compromisso com os pobres...
- em êxodo com os pobres e para os pobres.
Dizem que a autenticidade de uma experiência espiritual se verifica pelos frutos que ela provoca ou suscita. A de Cláudio leva-o ao encontro dos pobres. Aos limpachaminés, lhes ensinará o catecismo, ajudar-los-á materialmente... Há aqui um caminhar, um peregrinar... da ajuda supérflua, passa a viver com eles, a partilhar a mesma sorte e condições...
Etapas: 1. Serviço caritativo e ensino do catecismo; 2. Descoberta da enorme riqueza dos pobres: recusa para isto o projecto com Grignon por que sabe que Deus o chama...
Então, a celebração de este ano “Poullart des Places” nos leva a caminhar nestas duas direcções... Os desafios do nosso tempo e o peso das dificuldades não são fatalidades, nem tristes e lamentáveis fados. Como para Cláudio, do outro lado das dificuldades, do escuro do caminho, das adversidades e infidelidades, Cristo e o seu Evangelho estão sempre lá para libertar e guiar-nos. Um novo dinamismo da missão pode nascer das conversões e da nossa disponibilidade renovada aos apelos do Espírito hoje. É assim que se constituirá a nossa unidade, porque é esta experiência do Espírito, este carisma que é o cimento que nos reúne.
02/10/09 Fraião-Braga:
P.Tiago... Cssp

16/10/2009

18 de outubro - 83º Dia Missionário Mundial


«As nações caminharão à sua luz»(Ap 21,24)

No dia mundial missionário, em que a Igreja reaviva o ser missionário de cada cristão e de toda e qualquer comunidade cristã, escutamos o exemplo que nos vem de Cláudio pela inteira disponibilidade e entrega à causa missionária. Hoje, 300 anos depois da sua morte, o seu exemplo continua vivo e activo em tantos missionários e comunidades cristãs espalhados pelos 60 paises onde os Missionários Espiritanos estão presentes. Na linha da mensagem do Papa para este dia mundial missionário também eles se comprometem em levar a Luz às nações para "contagiar" de esperança os povos, sobretudo os mais pequenos e abandonados.


Pensamento de C.P.Places "De todos os bens temporais não pretendia reservar-me mais que a saúde que desejava sacrificar inteiramente a Deus no trabalho das Missões, sumamente feliz se, depois de ter abrasado toda a gente no amor de Deus, pudesse dar até à última gota o meu sangue por Aquele cujos benefícios eu tinha quase sempre presentes.”

N:Continuemos a rezar pela sua beatificação e comuniquem alguma graça ou dom.

10/10/2009

Os três pilares de espiritualidade de P.Places...Cont.

3. A vida de comunidade: da observância regulamentar à mística de um cenáculo de vida consagrada ou seja: da vida comum à comunhão de vida:

Depois de 18 meses de experiência feliz de vida em comum, Poulalrt des Places encontra as primeiras dificuldades. sérias. Foi a crise de 1704. Sente-se só para um projecto que cresce e o ultrapassa. È trabalho demais para ele. E esse trabalho absorvente esvazia-o por dentro: perde a alegria de rezar e de rezar com os outros ”Eu deixei o mundo para procurar a Deus , para renunciar á vaidade e para salvar a minha alma e sinto-me tão longe dessa entrega”! Foi uma crise seguida de um retiro em que lança a sua obra com novas bases Para continuar a formação dos seminaristas pobres era necessária uma organização mais forte que a que ele tinha improvisado. Na “casa de Caridade” da rua des Cordiers ele estava só no meio de jovens cujo número aumentava continuamente. Este ministério exigia, para prosseguir solidamente, estruturas, homens, lugares, regulamentos, enfim uma organização mais sólida. . O seu esforço agora é de providenciar a tudo deixando de ser ele o único ponto de referência Sem pensar nele, mas apenas em Deus. Ele compreende que a solução está na constituição de uma equipa de formadores : Assim nascerá a comunidade dos Messieurs du Saint Esprit: a comunidade improvisada vai tornar-se uma comunidade estruturada, em tudo semelhante a uma comunidade religiosa. È preciso preparar para as Ordens, a começar por ele.. Ele vai pedir o diaconado e o sacerdócio logo que isso seja possível.
Entretanto cria para já uma rede de colaboradores : pede a três para colaborarem com ele:: Jacques Yacinte Garnier ( que será o seu sucessor), Jean Le Roy e MIchel Vincent Le Barbier, que será o primeiro padre espiritano. Toma também o”pobre P. Carris”, como membro da comunidade que será o ecónomo, durante muitos anos e que permanecerá na congregação como a memória viva da pobreza espiritana.. A este grupo juntaram-se alguns leigos: o alfaiate, o cozinheiro, o porteiro. Foi esta equipa de formadores que se tornará a primeira célula da Congregação do Espírito Santo. Era uma comunidade ao serviço da formação dos estudantes pobres para o ministério das paróquias rurais e dos lugares para os quais dificilmente se encontravam obreiros. Esta é a comunidade das origens que só viria a ser reconhecida oficialmente com o P. Bouic, pois o decreto de 1666 proibia a fundação de comunidades religiosas sem cartas patentes do Governo
Para levar a cabo este projecto era necessária uma casa maior que a casa do Gros Chapelet. Poullart des Palces lançou-se à procura de uma casa mais funcional e encontrou-a ali perto na Rua Nova de Saint Etienne, a dez minutos do colégio de Luís o Grande, com mais espaço e um belo jardim. Ali se instalou com 50 jovens nos princípios de Outubro 1705 e aí permanecerá até 1709, data em que a comunidade se deslocará para a Rua des Postes, hoje Rua Lhomond. ´Para esta nova comunidade, já mais consistente, era preciso criar estruturas de governo, normas que regulassem a vida comum e que seriam codificados nos chamados “Regulamentos Gerais e Particulares”,, adaptadas às novas condições de vida da comunidade. Foi o próprio Cláudio que redigiu estes Regulamentos, de que temos o manuscrita com sucessivas correcções
Quando lemos os 263 artigos dos ”Regulamentos Gerais e Particulares” que Poullart des Places nos deixou, ficamos com a impressão de termos diante de nós um código de observância mais jurídica e formal que inspiradora e carismática. Efectivamente temos normas para os objectivos da comunidade, a admissão dos candidatos, , a vida dos estudantes. os deveres e as obrigações dos estudantes, os programas escolares, as cerimónias litúrgicas e a catequese, as refeições, os recreios, os comportamentos, o silêncio, a modéstia e a obediência, os professores ou explicadores, os cargos: regulamentário, bibliotecário, sacristão, leitor, ecónomo, despenseiro, encarregado das luzes, roupeiro, enfermeiro, encarregado da limpeza, chefe de canto, refeitoreiro, serventes de mesa, lavadores da louça, porteiro, alfaiate, cozinheiro, encarregado dos quartos de banho e por aí adiante. Todos nos lembramos do nosso tempo de seminário ou postulantado onde todos estes cargos tinham toda a expressão.. Por vezes os Regulamentos entram em demasiados detalhes, o que se deve ao facto de os alunos, vindos do meio rural, chegarem aos Seminário sem as normas mais comuns de delicadeza e de convívio fraterno.
No entanto, o mais curioso é que se todos estes Regulamentos se desdobram em pormenores e prescrições não é tanto por causa dessas observâncias como para fazerem da comunidade uma escola de serviços mútuos, de fraternidade e comunhão , onde reinasse um só coração e uma só alma.. Todos estes serviços estão voltados para a fraternidade e comunhão fraterna. Não é por acaso que a divisa “Um só coração e uma só alma” se tornou a credencial dos Espiritanos. Na verdade a comunidade de Poulalrt des Pllaces era mais um espírito que uma estrutura. .A comunidade viveu sem existência legal mais de trinta anos, sem se saber bem se era um seminário ou uma comunidade religiosa. Servia para um e outra. E quando em 1734, com Bouic, ela assumiu uma estrutura legal, esta consistia apenas num corpo de directores requeridos pela lei civil, para que pudesse ter personalidades jurídica. Os directores não faziam votos de religião, mas apenas um contrato. em que se comprometiam a observar os estatutos, de resto muito simples. . Como diz Henri Koren, o vigor desta comunidade não provinha da sua organização mas do seu carisma. O que eles tinham em comum era a concepção do sacerdócio. Ser padre para eles significava uma disponibilidade evangélica a toda a prova, na docilidade ao Espírito Santo para o serviço dos mais pobres e abandonados, acompanhada de uma mística de pobreza. Para eles viver a concepção do sacerdócio bastava para assumirem a vida religiosa na sua radicalidade e os seus compromissos apostólicos não precisavam de qualquer promessa. O que os motivava não era o quadro legal, mas a fidelidade ao Espírito Santo.
A comunidade de Poullart des Places era antes de mais nada uma comunidade de serviços e relações fraternas. Conhecemos em pormenor a rede de serviços que os membros partilhavam uns com os outros. Os Regulamentos falam de 18 cargos ou serviços fraternos. Todas as funções eram exercidas pelos membros da comunidade, tanto os que exigiam especialização. como o cozinheiro, o ecónomo, o alfaiate. como aqueles que se podiam improvisar, como o refeitoreiro, o encarregado da limpeza, .o das lâmpadas e portas, o sacristão, o bibliotecário, o regulamentário, etc. O serviço fraterno é uma das expressões mais significativas da comunhão fraterna. As responsabilidades inclusive as responsabilidades da direcção eram fraternalmente distribuídas.
Era Comunidade que hoje chamaríamos mista ou de missão partilhada Efectivamente dela faziam parte padres , clérigos e leigos, onde o cozinheiro e o alfaiate, leigos faziam parte integrante da comunidade. Os doentes gozavam de uma atenção especial e a norma é que “deviam ser servidos como se fossem o próprio Cristo”
Mas era também uma comunidade de fé e oração. A consagração ao Espírito Santo que caracterizava a comunidade era recordada ao longo do dia pela invocação do Espírito Santo antes de qualquer actividade escolar. Todos os dias se rezava o Ofício do Espírito Santo A. A docilidade a esse espírito era a sua marca de origem.
Comunidade que amava ternamente Maria , concebida sem pecado, ainda antes da proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, sob cuja tutela todos os membros eram consagrados ao Espírito Santo.”Sempre que sairmos de casa para algum lado, reunir-nos-emos todos na capela para nos encomendarmos à Santíssima Virgem””Os estudantes terão também uma singular devoção à Santíssima Virgem, sob cuja protecção foram consagrados ao Espírito Santo”
Comunidade de vivência eucarística e liturgia esmerada que ritmava todos os dias da vida dos estudantes. A devoção à Santíssimo Eucaristia prolongava-se pelas frequentes visitas ao Santíssimo durante o dia .“Eu passava tempos consideráveis diante do Santíssimo Sacramento: nisso consistiam aos meus melhores e mais frequentes entretenimentos”.””Experimentava visivelmente ( as bênçãos de Deus) na santa ansiedade que sentia ao aproximar-me do Santíssimo Sacramento do altar”
Comunidade de formação escolar de qualidade. O concílio de Trento tinha criado os seminários para a formação dos aspirantes ao sacerdócio. E programa que propõe para essa formação era exigente. Poullart des Places insere o programa académico dos estudantes na fidelidade a essa exigência. Os estudos incluíam três anos de Filosofia, compreendendo as ciências novas, a Matemática e a nova Física de Newton,, depois cinco anos de estudos teológicos e finalmente, se necessário um mestrado de dois anos em Direito Canónico e Sagrada Escritura. A pastoral dos mais pobres e abandonados merecia todo o esmero desta preparação de nível universitário. Nem hoje os programas de formação dos seminaristas são mais exigentes.
Comunidade apostólica. Desta comunidade nasceu a geração de ouro dos Espiritanos, que foi sem dúvida a dos missionários da América do Norte, no tempo das lutas entre a França e a Inglaterra pela posse destas colónias.

Humanamente falando, o seminário devia desaparecer com o seu fundador. O seu principal colaborador foi nomeado bispo e um outro vai sê-lo pouco depois. O seu sucessor morreu poucos meses depois de assumir o cargo. Apesar disso,, nós vemos o seminário progredir e crescer . Ele terá mesmo um longo período de estabilidade e de consolidação com o P. Bouic, que será o seu superior durante 40 anos, conseguindo dar-lhe uma estrutura jurídica e fazer aprovar as primeiras Constituições Ao P. Carris, não lhe será permitido passar para os Monfortinos e seria o suporte económico do Instituto durante todos esses anos..
Penso que o grande apelo deste ano jubilar é o de recuperarmos a inspiração e o espírito do fundador: a docilidade ao Espírito Santo, a mística da pobreza apostólica e uma comunhão de vida tão aberta ao Espírito que rompa os espaços da nossa tenda e nos abra para os novos modelos de vida comunitária ao serviço da missão.

P. Torres Neiva

05/10/2009

Os três pilares de espiritualidade de P.Places



Conferência proferida pelo P. Adelio Torres Neiva na celebração do tricentenário na Torre d Aguilha

O itinerário espiritual de Poullart des Places pode ser pontuado, como o faz Jean Savoie, em três etapas sucessivas: em primeiro lugar a passagem da sua carreira pessoal e mundana para se pôr á disposição de Cristo para o serviço dos pobres é o seu caminho de Damasco que teve o seu momento culminante no retiro de 1701, em segundo lugar a passagem das suas certezas humanas para as certezas de Cristo á escuta dos pobres: o seu tempo do colégio de Luís o Grande em que ele decide fazer-se sacerdote e se compromete com os doentes, os pobres e os aspirantes ao sacerdócio sem recursos – é o seu caminho das bem-aventuranças; e em terceiro lugar o tempo em que ele abre uma casa de formação para aspirantes pobres ao sacerdócio, que tanta dedicação e sofrimento lhe exigiria: : é o seu .caminho da cruz, a sua via sacra.
Nesta caminhada foi emergindo uma mística de vida que acabaria por se tornar a base da sua espiritualidade Esta mística assenta em três pilares: a docilidade ao Espírito Santo, a vida de comunidade e a mística da pobreza. È nestes pilares que temos de alicerçar a nossa identidade das origens.
Notemos desde já que estas três vertentes são um pouco as bases de uma espiritualidade que Poullart des Places descobriu ao longo da sua vida. e que por vezes se misturam e se cruzam. O Espírito Santo herdou-o como devoção e descobriu-o como docilidade; a pobreza descobriu-a como acolhimento aos pobres e acabou por a assumir como mística da sua vida; a comunidade descobriu-a como estatuto para uma vida em comum e acabou por a assumir como cenáculo de vida consagrada: foi a passagem da vida comum à comunhão de vida
Nesta abertura do Ano de Poullart des Places, vamos fazer uma visita guiada a estes pilares das nossas origens, servindo-nos de guia a revista “Missão Espiritana” consagrada ao nosso primeiro fundador, que acaba de ser editada.

1.O Espírito Santo na vida de Poullart des Places: da devoção ao Espírito Santo à docilidade ao Espírito Santo.

A origem da consagração dos Espiritanos ao Espírito Santo poderia ser procurada na data do nascimento oficial do seminário dos estudantes pobres na festa do Pentecostes de 1703. Sabemos, porém, que Poullart des Places tinha já sonhado e começado a sua obra alguns meses antes. Nada o impedia de retardar a cerimónia da inauguração até ao início do próximo ano escolar ou até a uma outra festa à sua escolha. Não é portanto a data do Pentecostes que explica a consagração ao Espírito Santo, mas é a vontade do fundador de dedicar a sua obra ao Espírito Santo que explica a escolha do dia do Pentecostes para a sua inauguração.
Para reencontrar as fontes da inspiração da devoção ao Espírito Santo, de Poullart des Places temos que nos remontar à Bretanha. das suas origens As missões e os retiros tinham sido os principais instrumentos da renovação espiritual daquela província. Ora a verdade é que esta renovação se tinha operado sob o signo da devoção aos Espírito Santo e isso graças à influência do jesuíta o P. Lallemant . Este jesuíta, o famoso orientador do terceiro ano de noviciado dos Jesuítas, é o fundador de uma escola de espiritualidade, que mais que qualquer outra, acentua a importância da docilidade ao Espírito Santo. nos caminhos da vida cristã. Ele nunca esteve na Bretanha mas os seus discípulos sim. Os seus discípulos foram os grandes pregadores dessa espiritualidade na Bretanha :nomeadamente em Rennes, Rouen, , Bourges, Saint Brieu, a sua animação espiritual cobriu toda a Bretanha. Para Lallemant os dois pólos da sua espiritualidade eram a pureza de coração e a docilidade ao Espírito Santo, sendo o primeiro apenas um meio para atingir o segundo. “ O fim a que devemos aspirar, depois de nos termos por muito tempo exercitado na pureza do coração, é estarmos de tal maneira possuídos e dirigidos pelo Espírito Santo, que seja só ele quem conduz todas as nossas forças e sentidos, e que regule todos os nossos movimentos , interiores e exteriores, e que nos abandonemos totalmente a Deus ,, por uma renúncia espiritual das nossas vontades e das próprias satisfações. Assim, não viveremos em nós, mas em Jesus Cristo, por uma correspondência fiel ao agir do seu divino espírito”.(Doutrina Espiritual. P. Lallemant)
No livro do P. Lallemant “Doutrina Espiritual” donde este texto foi extraído, há 150 páginas consagradas ao Espírito Santo, mas pode dizer-se que no decorrer da obra não há nenhum parágrafo em que o Espírito Santo não seja referido
Além de pregadores, os jesuítas apóstolos da Bretanha, eram também exímios directores espirituais. No século XVII estes padres chegaram mesmo a formar uma Associação denominada “Associação dos Padres do Espírito Santo”, uma espécie de confederação, que chegou a contar cerca de mil associados, que se dedicava especialmente à formação pastoral e espiritual dos padres. Um manual para estes padres tinha o nome de “ Instituição da Congregação dos eclesiásticos dedicada ao Espírito Santo, sob a tutela da sua esposa sagrada, a Santíssima Virgem”. Há muitas semelhanças entre este manual e os Regulamentos do seminário de Poullart des Places
Akém isso,, algumas cidades da Bretanha como Rennes, Vannes, Quimper, tinham a sua casa de retiros. A de Rennes foi fundada em 1675, pelo reitor do colégio. Um documento de 1678 informa-nos que só neste ano, nesta casa, mais de cem padres participaram em retiros especialmente organizados para o clero.
O jovem Poullart des Places deve ter sido muito marcado por esta corrente de devoção, pois na rua de S.Salvador onde decorreu a sua adolescência , uma casa, com bastantes probabilidades de ser aquela mesma casa que ele habitou com seus pais, era então vulgarmente apelidada de “Casa do Espírito Santo”
È também provável que em Rennes existisse já uma Confraria do Espírito Santo, pois em 1699 temos notícia de uma renda em seu favor e temos referências a essa confraria na capital bretã.
Estas influências que terão deixado marcas em Poullart des Palces foram depois aprofundadas durante a sua formação nos colégios jesuítas, nomeadamente pelo P. Julien Bellier, capelão do hospital de Saint Yves, que Cláudio acompanhava nestas visitas bem como visitas que em Nantes ele à casa de retiros destas cidade
Uma outra influência dos colégios, talvez mais decisiva, foi a Associação dos Amigos, que ele frequentou em Paris, no colégio de CLermont.ou Luois Le Grand. Na origem desta associação de piedade estão precisamente dois bretões, discípulos do P. Lallement: Vincent de Meur e Jean Bagot. A acta da inauguração da Associação reza assim: “Escolheu-se e determinou-se o dia do Pentecostes, 4 de Junho de 1645, onde todos juntos , estando reunidos na congregação mariana do colégio às 3 horas da tarde, cada um recitou as orações e fizeram as outras orações designadas pelas regras para a recepção dos novos membros…”
Poullart des Places conhecia bem esta acta que se repetia todos os anos no decurso da primeira assembleia, e se ele dedicou a sua obra ao Espírito Santo foi porque bebeu nas meditações e colóquios destas reuniões a sua profunda devoção à Santíssima Trindade. Estas meditações encontravam-se compiladas no manual chamado “Prática das virtudes cristãs”. O Capítulo VII é todo ele dedicado ao Espírito Santo. Dizia esse manual: “ No dia de Pentecostes e durante toda a semana, abrirei o meu coração ao Espírito Santo afim de que o encha, o possua intimamente e seja o espírito do meu espírito e o coração do meu coração. Apresentá-lo-ei afim de que ele o consuma, como vítima, nas chamas do seu amor…Na prática devo acostumar-me a considerar o Espírito Santo, habitando intimamente em mim.”.
Foi a partir destas influências que ele acabou por passar da devoção ao Espírito Santo à ductilidade Espírito Santo. Ele percebeu que o Espírito Santo queria passar das tradições e do património espiritual da Bretanha para o seu coração Então o Espírito Santo começou a entrar na sua vida. A devoção que o marcava foi apenas a porta para ele entrar. Foi um salto difícil de que ele nos dá conta nos seus escritos. Foi quando descobriu a revelação do amor de Deis por ele, que o fez ultrapassar todas as reticências No seu retiro de 1701, ele faz uma releitura da sua vida , toma consciência deste Deus que sem cessar o procura , o persegue e que não deixa em paz..”Vós me procuráveis, Senhor e eu fugia de vós” Então todas as barreiras caem e ele perde todas as suas defesas. A partir desse momento ele não tem outro desejo senão entregar-se a Deus e corresponder a esse amor..Foi o “franchir le pas” de que falava Lallemant Ele entrega-se a Deus com todos os seus defeitos, as suas luzes e as suas sombras., uma vez por todas. “”Arrependido da minha cegueira, renuncio de todo o coração a todas as coisas que me levam a fugir de vós. Agora que venho procurar-vos, estou disposto a seguir todas as ordens da Vossa Providência. Vinde ao coração em que desde há muito quereis entrar. A partir de agora só para vós terei ouvidos e não terei mais afectos senão para vos amar..”Estou decidido a seguir o caminho que me indicares”
A partir daí a docilidade ao Espírito Santo será a bússola que o vai guiar. A disponibilidade apostólica será uma das marcas de origem dos Espiritanos.. Srá no horizonte desta disponibilidade que ele conhecerá os pobres e jogará a vida pela sua causa. “O que o Espírito nos pede neste momento, pede-o para sempre. Devemos pertencer-lhe na vida e na morte…Comprometemo-nos a procurar a honra do Espírito Santo,, primeiro dentro de nós próprios por meio de um espírito de docilidade perfeita á vontade de Deus, de obediência e submissão aos impulsos da graça, por um espírito de abandono de nós próprios aos desígnios da divina Providência. È necessário deixar-se dirigir pelo Espírito Santo, seguir unicamente as suas inspirações e resistir a todas as da carne, não ter mais afectos nem intenções, que as que Ele inspira, confiar nele e rejeitar toda a inquietação. “Ele é o meu pastor, nada me falta”
Alguns anos mais tarde, quando a congregação estava já solidamente implantadas, o P. Warnet, Superior Geral confessava: .”Esta consagração que fazemos ao Espírito Santo faz parte essencialmente do espírito das nossas Constituições: as santas promessas que com ela fazemos são a herança que nos deixaram os nossos pais. Eles eram pobres dos bens da terra e queriam ser ricos só dos dons do Espírito Santo que constituíam todo o seu tesouro. Legaram-nos também um testemunho dos seus piedosos sentimentos numa fórmula de consagração que nó devemos honrar com uma veneração inteiramente religiosa porque é como que o seu testamento espiritual…Consagraram-se ao Espírito Santo sob a invocação de Maria concebida sem pecado e nos ofereceram a eles. . Não podemos pertencer a melhor Mestre , sob uma melhor salvaguarda como a de Maria . Consagremo-nos, portanto a um e a outra segundo a intenção dos nossos pai”
E o P. Besnard, na sua biografia de S.Luis Maria Grignion de Monfort, diz dos primeiros espiritanos: “Sabe-se a que se destinam os jovens eclesiásticos que se reúnem no Seminário do Espírito Santo. Formados para todas as funções do sagrado ministério e em todas as virtudes sacerdotais…possuem em guru elevado, o espírito de desprendimento, de zelo e de obediência. Dedicam-se ao serviço das necessidades da Igreja, sem outro desejo que não seja o de servir e de lhe ser útil. Vemo-los nas mãos dos superiores imediatos e ao primeiro sinal da vontade destes…formam como que um corpo de tropas auxiliares, dispostos a ir por toda a parte onde haja trabalho para salvar almas, dedicando-se preferentemente ás obras das Missões, tanto estrangeiras como nacionais, oferecendo-se para ir residir nos lugares mais pobres e mais i abandonados para os quais se encontram mais dificilmente obreiros. Quer seja necessário ser relegado para o fundo de uma zona rural ou enterrado no canto de um hospital…ensinar num seminário ou dirigir uma comunidade pobre…quer seja preciso atravessar os mares ou ir até ao fim do mundo para ganhar almas para Jesus Cristo, a sua divisa é esta. “ Eis-nos aqui, dispostos a fazer a vossa vontade. Ecce ego, mitte me”
De notar, que associada ao Espírito Santo estava sempre Nossa senhora: “ Nossos pais consagraram-se ao Espírito Santo sob a invocação de Maria concebida sem pecado e nos consagraram a eles. Não podemos pertencer a um melhor Mestre nem estar sob melhor protecção que a de Maria. Consagremo-nos portanto a um e a outra segundo o desejo dos nossos pais espirituais”
Penso que um primeiro apelo da celebração deste ano jubilar da morte do nosso fundador será reabrir o seu testamento, o testamento da sua vida, e dar um novo espaço ao Espírito Santo na difusão do seu papel na vida e na missão da Igreja e deixarmos que ele faça parte incontornável do nosso projecto de vida

02/10/2009

2 de Outubro de 2009 – 300 aniversário da morte de Poullart des Places

Celebração no Fraião- Braga
Quem é o maior no reino dos céus?
O desejo de grandeza, honras e poder parece ser constitutivo da pessoa humana. Todos nós desejamos, por natureza, ser importantes, grandes. Mas é grande o exemplo de Jesus que, sendo o maior, o Filho de Deus, se converteu e se fez um como nós, humilhando-se para nos salvar.
Jesus no evangelho de hoje é bem claro: Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças não entrareis no reino dos céus. Quem se humilhar esse será o maior no reino dos céus.

È este, creio eu, o grande exemplo que nos deixou o nosso jovem fundador Cláudio Francisco Poullart des Places. Sendo jovem, cheio de dotes e com um futuro promissor e glorioso pela frente, renunciou a tudo isso, despojou-se de todos os seus bens e honrarias, para estar disponível e servir. A sua conversão ao projecto de Deus obrigou-o a ultrapassar barreiras, pessoais e familiares. O Espirito Santo a quem ele consagrou a sua vida e a sua comunidade foi certamente aquele fogo do amor de Deus a transformá-lo à imagem de Jesus. Não só na sua humilhação e disponibilidade para realizar o projecto de Deus Pai, mas também na sua entrega a Deus ainda muito jovem, morrendo aos 30 anos e 6 meses de idade.

Um miúdo interpelou um homem rico e perguntou-lhe:
- Esse carro é seu?
- Sim.
- É bonito, sabe! Quanto pagou por ele?
- Não sei.
- Quer dizer comprou-o e já não se lembra quanto pagou por ele, é isso?
- Não. Eu não o comprei. Foi o meu irmão que mo deu como presente.
- Quer dizer o seu irmão deu-lho e não lhe custou nem um cêntimo.
- É isso mesmo.
- Ah, respondeu o miúdo, quanto …
E o homem rico pensou que o rapaz iria dizer: quanto eu gostaria de ter um irmão assim, mas não: Ele disse:
- Quanto eu gostaria de ser um irmão assim.

Quanto eu gostaria de ser um irmão assim, como Cláudio Poullart des Places. Capaz de se fazer pobre para ajudar os pobres. Capaz de renunciar a tudo o que era legitimo para maior glória de Deus. Capaz de se entregar de alma e coração ao serviço dos outros. Capaz de consagrar a sua juventude, a sua vida, a uma causa: o bem das almas, a Missão da Igreja. Quanto eu gostaria de ser um irmão assim e de poder reconhecer em cada membro da nossa família espiritana, o zelo e a devoção, a disponibilidade e o serviço de Cláudio Poullart des Places. E graças a Deus vamos encontrando bons exemplos e seguidores de Poullart des Places nas nossas comunidades e nos nossos grupos, incluindo entre os leigos.

Damos graças a Deus pelo exemplo do nosso fundador Cláudio Poullart des Places cuja vida de humildade e profundo desejo de corresponder à vontade de Deus se alimenta à mesa da Eucaristia e se fortalece, também para nós, no encontro com o Senhor Jesus, na sua palavra e no seu pão. Poullart des Places passava horas diante do santíssimo sacramento. A sua vida activa estava bem fundada na vida de oração e de comunhão com Deus que ele tanto cuidou. Por isso é grande o desafio que o seu exemplo nos levanta hoje: viver em comunhão com Cristo para que não nos seja difícil reconhece-lo no outro, especialmente no pobre, a quem somos chamados a servir.
Por outro lado ao celebrarmos os 300 anos da morte do nosso querido fundador, damos graças a Deus por a sua intuição e o seu exemplo, constitutivos do carisma espiritano, continuar a entusiasmar homens e mulheres, religiosos e leigos, no seguimento de Cristo e ao serviço da Missão como missionárias e missionários do Espirito santo, espalhados hoje em 60 paises deste mundo..
Sejamos nós capazes de ser ousados e criativos para encontrarmos a melhor forma de levar o exemplo da sua vida e o apelo da sua conversão ao conhecimento dos jovens de hoje. Por sua intercessão roguemos pelas vocações e pela generosidade dos jovens em responder aos apelos de Deus. Para isso, creio ser importante relembrar e fazer na nossa vida o primeiro artigo do Regulamento Geral da Primeira comunidade que Cláudio fundou, que diz:: Todos os membros adorarão particularmente o Espirito Santo ao qual estão especialmente dedicados. Terão também uma particular devoção à Santíssima Virgem, sob a protecção da qual todos são oferecidos ao Espirito Santo.
Homilia do Provincial: P.José Manuel Sabença